Preste atenção no seguinte trecho:
O que temos que ter sempre em mente é que a consolidação das estruturas é uma das conseqüências do processo de comunicação como um todo. Todavia, o acompanhamento das preferências de consumo cumpre um papel essencial na formulação das diretrizes de desenvolvimento para o futuro. No entanto, não podemos esquecer que a complexidade dos estudos efetuados exige a precisão e a definição do sistema de participação geral.
Anote bem. Agora veja esse aqui:
A hegemonia do ambiente político causa impacto indireto na reavaliação dos procedimentos normalmente adotados. O empenho em analisar o consenso sobre a necessidade de qualificação talvez venha a ressaltar a relatividade das direções preferenciais no sentido do progresso. No entanto, não podemos esquecer que a revolução dos costumes cumpre um papel essencial na formulação do retorno esperado a longo prazo. Todas estas questões, devidamente ponderadas, levantam dúvidas sobre se a constante divulgação das informações promove a alavancagem das condições inegavelmente apropriadas
Por gentileza, tome nota mental disso tudo. Mas sigamos:
Aquela propriedade que caracteriza os organismos cuja existência evolui do nascimento até a morte, ou seja, aquele elemento essencial que sustenta, permite a existência e o funcionamento de seres, enfim, aquele conjunto de atividades e funções orgânicas que constituem a qualidade que distingue os que ainda não morreram, vem a ser, por assim dizer, conforme seja considerado unicamente em viés meramente enunciativo, um perpetuar ininterrupto de produção de efeitos.
Pense com bastante carinho em tudo que leu. Agora trave uma discussão a respeito com seus amigos. Depois anote o resultado.
Os dois primeiros trechos não foram escritos por ninguém, foram gerados automaticamente por um programa, disponível neste endereço: http://www.dicas-l.com.br/lerolero/index.shtml.
Já o segundo foi escrito usando-se apenas o velho e bom dicionário. Tomou-se a singela e oca frase “a vida é um eterno agir” e substituiu-se cada palavra por uma ou mais de suas definições. Simples assim. É o empôles, aquela língua que diz pouco ou nada, típica de boa parte dos intelequituáiz de todo tempo. Há dialetos bem conhecidos: juridiquês, economês, mediquês (cuja escrita é ainda mais complexa que japonês e o árabe), e, claro, a recém-nascida comentariês, que já toma de assalto as redações Brasil afora. É o jeito Rolando Lero de se comunicar. Tem quem goste de assim escrever e também quem idolatre esse escrito e sabe-se lá qual dos dois seja mais perigoso.
Tecnicalidades são uma coisa, elas possuem sentido claro no seu contexto, coisa que o empolês não tem em condição alguma. Clareza é um perigo, porque interpretatio cessat in claris. Quanto mais obscuro, mais interpretação e, obviamente, menor o risco de ser exposta a estupidez do autor. Para o leitor empolatra, o texto obscuro tem a fantástica vantagem de permitir que ele esconda a sua própria estreiteza mental naquela complexidade e de se livrar de qualquer interlocutor incômodo invocando as inúmeras possibilidades de sentido ali depositadas. Enfim, um não tem nada a dizer e o outro não entende e ambos afirmam se tratar de coisa séria, profunda e, obviamente, muito complexa e repleta de significados.
O empolês funciona bem na forma escrita, mas na forma verbal, dada a complexidade e o abuso de termos plurívocos dificulta acompanhar o palestrante. Mas há uma saída, sempre há: oratória. Uma boa oratória, envolvente, com toques de humor produzirá maravilhas. Um estudo produzido por D.H. Naftolin, J. Ware e F. Donelly na década de 70 tornou-se referência em pedagogia por demonstrar o impacto do ânimo do professor nos alunos. Os pesquisadores contrataram um ator para que se passasse como professor de medicina. Foi apresentado como detentor de diversos títulos acadêmicos e proferiu uma palestra sobre a teoria dos jogos no âmbito médico. Usou e abusou de neologismos, contradições e, claro humor, falando sempre com vontade, imponência e assumindo uma autoridade invejável. Ao final, os alunos avaliaram a apresentação como ótima, apesar de nada substancial ter sido dito, enfim, eles nada aprenderam, mas mesmo assim disseram se tratar de um excelente professor. Surgiu aí a conhecida expressão “efeito da sedução educativa”. Nada impede que se faça uso de uma boa oratória para se comunicar algo, claro, é até recomendável.
Coisa idêntica se dá com o empolês escrito. O empolatra lê o que não está escrito e ainda é capaz de chamar de burro quem não concorda com ele. O famoso caso Sokal abalou o empolês, mas não o suficiente para que fosse deixado de lado. Basicamente, ele, físico de carreira, escreveu um artigo para um revista de ciências humanas, usando e abusando, como na maioria dos textos filosóficos pós-modernos, de termos científicos sem sentido fora do seu contexto técnico, o qual, ao fim, não queria dizer absolutamente nada. Pois, o texto passou pelo crivo dos editores, foi bem recebido pelos leitores e até recomendado em salas de aula. Depois de um tempo o físico disse se tratar de uma farsa, mostrando o absurdo no uso daqueles termos. Houve bastante discussão acadêmica, mas, não adiantou, o empolês sobreviveu e segue firme e forte mundo afora, falando cada vez mais e dizendo cada vez menos.
Tempos depois do episódio Sokal, Gilberto Gil disse o seguinte: a física quântica é a ciência em busca do espírito. De onde ele tirou isso? Sabe-se lá, mas é certo que não foi de nenhuma equação, de algum texto propedêutico ou um singelo artigo de divulgação científica que seja. Como ele não entende patavina de física e é um empolatra típico, pode ter topado com algum texto científico e, como fora do contexto os termos ganham outro significado, interpretou o que leu e disse bobagem. Ou, mais provável, leu algum sociólogo francês que fez o processo anterior e interpretou em cima da interpretação e soltou a asneira.
A empolatria é, claro, um elitismo, não uma meritocracia. Se trata de manter distância das pessoas comuns e de querer merecer estar ao lado de quem se afasta por, claro, também não querer estar perto da gente normal. Que o digam dois dos maiores cientistas do século XX, Einstein, para quem “uma teoria que não pode ser explicada a uma garçonete não merece ser levada a sério” e Feynman, que ensinava que “se não fores capaz de explicar a física a tua avó é porque não percebeste grande coisa”. E nenhum dos dois tratou de temas simples, antes pelo contrário. E mesmo um grande literato já dizia coisa parecida: "Um relato honesto se desenrola melhor se o fazes sem rodeios", anotou Shakespeare.
E esse elitismo é bem constatado quando se toma contato com uma faceta bem usual do empolês, o discurso politicamente correto. Palavras simples, de uso consagrado, são substituídas por termos cada vez mais vagos, como afro-americano, porque essa gente considera que o povão não tem inteligência suficiente de saber quando “negro” é ofensivo e quando não é.
Então, se você não é um analfabeto funcional, sempre que se deparar com um texto e não entender nada, não se sinta menos inteligente, é bem provável que seja muito mais inteligente que o autor do texto.
O que temos que ter sempre em mente é que a consolidação das estruturas é uma das conseqüências do processo de comunicação como um todo. Todavia, o acompanhamento das preferências de consumo cumpre um papel essencial na formulação das diretrizes de desenvolvimento para o futuro. No entanto, não podemos esquecer que a complexidade dos estudos efetuados exige a precisão e a definição do sistema de participação geral.
Anote bem. Agora veja esse aqui:
A hegemonia do ambiente político causa impacto indireto na reavaliação dos procedimentos normalmente adotados. O empenho em analisar o consenso sobre a necessidade de qualificação talvez venha a ressaltar a relatividade das direções preferenciais no sentido do progresso. No entanto, não podemos esquecer que a revolução dos costumes cumpre um papel essencial na formulação do retorno esperado a longo prazo. Todas estas questões, devidamente ponderadas, levantam dúvidas sobre se a constante divulgação das informações promove a alavancagem das condições inegavelmente apropriadas
Por gentileza, tome nota mental disso tudo. Mas sigamos:
Aquela propriedade que caracteriza os organismos cuja existência evolui do nascimento até a morte, ou seja, aquele elemento essencial que sustenta, permite a existência e o funcionamento de seres, enfim, aquele conjunto de atividades e funções orgânicas que constituem a qualidade que distingue os que ainda não morreram, vem a ser, por assim dizer, conforme seja considerado unicamente em viés meramente enunciativo, um perpetuar ininterrupto de produção de efeitos.
Pense com bastante carinho em tudo que leu. Agora trave uma discussão a respeito com seus amigos. Depois anote o resultado.
Os dois primeiros trechos não foram escritos por ninguém, foram gerados automaticamente por um programa, disponível neste endereço: http://www.dicas-l.com.br/lerolero/index.shtml.
Já o segundo foi escrito usando-se apenas o velho e bom dicionário. Tomou-se a singela e oca frase “a vida é um eterno agir” e substituiu-se cada palavra por uma ou mais de suas definições. Simples assim. É o empôles, aquela língua que diz pouco ou nada, típica de boa parte dos intelequituáiz de todo tempo. Há dialetos bem conhecidos: juridiquês, economês, mediquês (cuja escrita é ainda mais complexa que japonês e o árabe), e, claro, a recém-nascida comentariês, que já toma de assalto as redações Brasil afora. É o jeito Rolando Lero de se comunicar. Tem quem goste de assim escrever e também quem idolatre esse escrito e sabe-se lá qual dos dois seja mais perigoso.
Tecnicalidades são uma coisa, elas possuem sentido claro no seu contexto, coisa que o empolês não tem em condição alguma. Clareza é um perigo, porque interpretatio cessat in claris. Quanto mais obscuro, mais interpretação e, obviamente, menor o risco de ser exposta a estupidez do autor. Para o leitor empolatra, o texto obscuro tem a fantástica vantagem de permitir que ele esconda a sua própria estreiteza mental naquela complexidade e de se livrar de qualquer interlocutor incômodo invocando as inúmeras possibilidades de sentido ali depositadas. Enfim, um não tem nada a dizer e o outro não entende e ambos afirmam se tratar de coisa séria, profunda e, obviamente, muito complexa e repleta de significados.
O empolês funciona bem na forma escrita, mas na forma verbal, dada a complexidade e o abuso de termos plurívocos dificulta acompanhar o palestrante. Mas há uma saída, sempre há: oratória. Uma boa oratória, envolvente, com toques de humor produzirá maravilhas. Um estudo produzido por D.H. Naftolin, J. Ware e F. Donelly na década de 70 tornou-se referência em pedagogia por demonstrar o impacto do ânimo do professor nos alunos. Os pesquisadores contrataram um ator para que se passasse como professor de medicina. Foi apresentado como detentor de diversos títulos acadêmicos e proferiu uma palestra sobre a teoria dos jogos no âmbito médico. Usou e abusou de neologismos, contradições e, claro humor, falando sempre com vontade, imponência e assumindo uma autoridade invejável. Ao final, os alunos avaliaram a apresentação como ótima, apesar de nada substancial ter sido dito, enfim, eles nada aprenderam, mas mesmo assim disseram se tratar de um excelente professor. Surgiu aí a conhecida expressão “efeito da sedução educativa”. Nada impede que se faça uso de uma boa oratória para se comunicar algo, claro, é até recomendável.
Coisa idêntica se dá com o empolês escrito. O empolatra lê o que não está escrito e ainda é capaz de chamar de burro quem não concorda com ele. O famoso caso Sokal abalou o empolês, mas não o suficiente para que fosse deixado de lado. Basicamente, ele, físico de carreira, escreveu um artigo para um revista de ciências humanas, usando e abusando, como na maioria dos textos filosóficos pós-modernos, de termos científicos sem sentido fora do seu contexto técnico, o qual, ao fim, não queria dizer absolutamente nada. Pois, o texto passou pelo crivo dos editores, foi bem recebido pelos leitores e até recomendado em salas de aula. Depois de um tempo o físico disse se tratar de uma farsa, mostrando o absurdo no uso daqueles termos. Houve bastante discussão acadêmica, mas, não adiantou, o empolês sobreviveu e segue firme e forte mundo afora, falando cada vez mais e dizendo cada vez menos.
Tempos depois do episódio Sokal, Gilberto Gil disse o seguinte: a física quântica é a ciência em busca do espírito. De onde ele tirou isso? Sabe-se lá, mas é certo que não foi de nenhuma equação, de algum texto propedêutico ou um singelo artigo de divulgação científica que seja. Como ele não entende patavina de física e é um empolatra típico, pode ter topado com algum texto científico e, como fora do contexto os termos ganham outro significado, interpretou o que leu e disse bobagem. Ou, mais provável, leu algum sociólogo francês que fez o processo anterior e interpretou em cima da interpretação e soltou a asneira.
A empolatria é, claro, um elitismo, não uma meritocracia. Se trata de manter distância das pessoas comuns e de querer merecer estar ao lado de quem se afasta por, claro, também não querer estar perto da gente normal. Que o digam dois dos maiores cientistas do século XX, Einstein, para quem “uma teoria que não pode ser explicada a uma garçonete não merece ser levada a sério” e Feynman, que ensinava que “se não fores capaz de explicar a física a tua avó é porque não percebeste grande coisa”. E nenhum dos dois tratou de temas simples, antes pelo contrário. E mesmo um grande literato já dizia coisa parecida: "Um relato honesto se desenrola melhor se o fazes sem rodeios", anotou Shakespeare.
E esse elitismo é bem constatado quando se toma contato com uma faceta bem usual do empolês, o discurso politicamente correto. Palavras simples, de uso consagrado, são substituídas por termos cada vez mais vagos, como afro-americano, porque essa gente considera que o povão não tem inteligência suficiente de saber quando “negro” é ofensivo e quando não é.
Então, se você não é um analfabeto funcional, sempre que se deparar com um texto e não entender nada, não se sinta menos inteligente, é bem provável que seja muito mais inteligente que o autor do texto.
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