terça-feira, 25 de março de 2008

A REGRA DO OCTETO

Michael Lowi escreveu um livro bem lido nos cursos de ciências sociais e por alunos que têm professores esquerdistas, intitulado “As aventuras de Karl Marx contra o Barão de Munchausen”. O sindicato dos sociólogos de São Paulo (!) o considera, textualmente, um dos mais importantes inteliquituáiz marxistas brasileiros, apesar de o mesmo não pisar por aqui há décadas, residindo e trabalhando na França há mais de quarenta anos. Para além de textos marxistas, ele se aventura também no ambientalismo. Lá no, não riam, não riam, Centro de Mídia Independente, escreveu o seguinte certa vez:

É importante ir construindo a relação entre as lutas sociais e as ambientais, pois elas tendem a concordar, unidas ao redor de objetivos comuns.

Considerando que o objetivo dos marxistas é substituir o capitalismo e o estado de direito pelo comunismo, fica claro que o ambientalismo deve ter o mesmo objetivo ou, no mínimo, destruir o capitalismo e tudo que o sustenta. Considerando que o capitalismo não é um sistema político, na prática isto importa que o ativismo ecológico pretende um novo modelo de sociedade, diverso daquele onde floriu o capitalismo, ou seja, sem maiores liberdades que não a de escolher entre capim e alfafa para o jantar.

O mais francês dos intelequituáiz brazucas afirma cristalinamente:

O ecossocialismo parte de algumas idéias fundamentais de Marx sobre a lógica do capital e de alguns dos descobrimentos, avanços e conquistas científicas do movimento ecológico e da ciência ecológica. Marx não havia colocado ainda a questão da ecologia em sua análise porque, na sua época, a questão era muito pouco evidente. Mas ele afirma, em O Capital, que o sistema capitalista esgota as forças do trabalhador e as forças da Terra. Traça um paralelo entre o esgotamento do trabalhador e o esgotamento do planeta. Portanto, o desenvolvimento do capitalismo acaba com a natureza.

No português claro isto quer dizer o seguinte: o capitalismo é ruim para o meio ambiente porque Marx disse que é. E teje dito, sô.

O bom desse artigo é que ele mostra como uma ideologia pode embotar o raciocínio lógico. A certa altura lê-se:

Então, a transformação revolucionária das forças produtivas passa pela questão das novas fontes de energia, pelas chamadas fontes de energia renováveis. No lugar do petróleo poluidor e da energia nuclear devastadora, necessita-se buscar energias renováveis, como a energia solar. Mas ela não interessa aos capitalistas, porque é gratuita, difícil de vender e não é mercadoria.

Mas haja madeira para se fazer um tapume deste tamanho na lógica e na realidade. Isso é que é tapume. Tapadices deste tipo só mesmo em mentes completa e totalmente dominadas por uma ideologia. Claro que a luz solar é de graça, até aí a água também o é. O que custa é a conversão dela em algo humanamente útil, assim como se paga pelo tratamento da água. Células fotovoltaicas já existem e são usuais para pequenas demandas energéticas, como calculadoras, relógios e aquecimento de água residencial. Aliás, um aquecedor solar não é nada barato. Enfim, há já um mercado para a utilização da luz solar, apenas que o mesmo ainda não equacionou a relação custos-benefícios de um modo atraente para a maioria dos consumidores. No geral, só três tipos de energia são realmente úteis aos humanos: luz, calor e a mecânica, ou seja, movimento. No fim, em quase todas as atividades humanas, as formas de energia disponíveis na sociedade são convertidas numa dessas três. E quase sempre se passa pela eletricidade antes.

Mas o que chama a atenção mesmo é o claro uso revolucionário das tais fontes de energia renováveis. Enfim, eis claro, cristalino, o uso ideológico das questões ambientais em prol de uma implantação de um novo modelo de sociedade. Como nas urnas a coisa é meio difícil, pelo menos nos países sem cultura paternalista de dependência do estado, apela-se agora pelo amor ao nosso quintal.

Este mesmo trecho, contra o qual não se encontrará uma só voz nos cultos ambientalistas, mostra como o debate não é técnico nem de longe. Energia é energia, sempre, não desaparece. Fonte de energia não é algo que faça surgir energia, é algo que gera energia útil aos seres humanos, mais especificamente é algo que transforma outros tipos de energia em um tipo desejado de energia. Por exemplo, a força mecânica das águas se transforma em eletricidade, que será conduzida a lares e empresas, que a converterão, via equipamentos vários, em luz, calor e, às vezes, em energia mecânica novamente. Fontes de energias existem aos montes, nem poderia ser diferente, já que energia é algo deveras abundante na natureza. O problema todo está em se obter fontes economicamente viáveis de energia, ou seja, que forneçam a energia desejada a um custo aceitável pelos consumidores. Se é para se preocupar com problemas ambientais, deve-se apenas acrescentar o impacto ecológico destas tais fontes na conta, não retirar o componente econômico, porque, capitalismo ou socialismo, estas conversões sempre terão um custo.

Considerando que toda fonte de energia tem custos e que os consumidores, por definição econômica, sempre procuram o que lhes é mais vantajoso, ou seja, mais barato, todo produtor de energia, numa economia livre, tem o interesse de baixar o preço para conquistar mais consumidores. Considerando que o custo energético também é um custo dos equipamentos de um lar, temos aí que produtos que consomem menos energia são mais atrativos aos consumidores. Portanto, produtos que façam mais com menos energia são ecologicamente razoáveis. E fontes que produzam mais a partir de cada vez menos são também ecologicamente razoáveis. E uma tal busca só é razoável para os produtores num ambiente em que estes possam ganhar algo com isto, em que possam visar o lucro, porque se o custo puder ser repassado impunemente ao resto da sociedade, via impostos, por exemplo, estes não buscarão aperfeiçoar nada, já que o mesmo sempre será pago de alguma forma. Portanto, mais uma vez, o problema não é o capitalismo, é capitalismo de menos.