terça-feira, 11 de março de 2008

HORIZONTE DE EVENTOS

Aqui já se falou que qualquer sociedade que não permita maiores escolhas a seus cidadãos não contém moral alguma, pela simples razão de que sem opções e diferenças não há intencionalidades no agir, só automatismo, logo, não há racionalidade e muito menos moral nesta práxis. Mostrando a mesma coisa e muito mais, vem à tona um belo livro em formato PDF, “Uma teoria sobre socialismo e capitalismo”, do professor Hans-Herman Hope, filósofo e economista alemão, atualmente dando aulas na Universidade de Nevada, Las Vegas, e Senior Fellow do Instituto Ludwig von Mises. O texto ganhou tradução para o português brasileiro pelas mãos do Sr. Klauber Cristofen Pires, que disponibiliza na versão eletrônica o seu e-mail: klauber.pires@gmail.com. Verdade seja dita, o tradutor acaba por colocar uma mancha no verniz da obra com um prólogo por demais laudatório em que se lêem coisas como “O professor Hans Hermann-Hoppe tem o dom de nos fazer olhar para além do óbvio”, “Dotado de um profundo senso humanístico”, “Este livro não somente se lê, mas também se ouve” e por aí vai. Como é coisa de uma página, logo se esquece deste deslize e se agradece pela tradução.

Na rave etika e inteliquituáu reinante, qualquer coisa escrita neste sentido é bem vinda. E de que exatamente trata o livro, além da questão da ética no socialismo? Constrói uma teoria científica econômica logicamente fundamentada, livre, na sua base, do empirismo (o que também pode ser seu ponto fraco, mas isto exige uma discussão impertinente nestes segundos); avalia as várias formas de socialismo conhecidas na história, e mostra que o capitalismo é um sistema moralmente superior e que o igualitarismo não é nada moral. Um pequeno trecho da introdução mostra a que veio a peça. Coisa de dar água na boca:

Será demonstrado que a teoria da propriedade implícita no socialismo não passa, normalmente, nem mesmo o primeiro teste decisivo (a condição necessária, senão suficiente) requerido para normas de conduta humana que possam requisitar para si serem moralmente justificadas ou justificáveis. Este teste, tal como formulado na chamada “regra de ouro” ou, similarmente, no imperativo categórico kantiano, requer que, para ser justa, uma norma deve ser geral e aplicável a cada única pessoa da mesma forma. A norma não pode especificar direitos ou obrigações diferentes para categorias diversas de pessoas (uma para os cabeças vermelhas, e uma para os outros, ou uma para as mulheres e outra diferente para os homens), porque uma tal norma “particularista”, naturalmente, jamais poderia, nem mesmo em princípio, ser aceita como justa por todos. As leis particularistas, porém, do tipo “eu posso ferir você, mas você não tem permissão para me ferir”, estão, como se tornará claro no curso deste tratado, justamente na base de todas as formas praticadas de socialismo. Não apenas economicamente, mas no campo da moral, também, o socialismo torna-se um sistema mal-concebido de organização social. Novamente, a despeito de sua má reputação pública, é o capitalismo, um sistema social baseado explicitamente no reconhecimento da propriedade privada e das relações contratuais entre os detentores de propriedade privada, que vence incondicionalmente. Será demonstrado que a teoria da propriedade implícita no capitalismo não apenas passa no primeiro teste de “universalização”, mas também que ele se torna a pré-condição lógica (die Bedingung der Moeglichkeit) de qualquer tipo de justificação argumentativa: Quem argumenta em favor de qualquer coisa, e em particular em favor de certas normas como sendo justas, deve, implicitamente, pelo menos, pressupor a validade das normas de propriedade implícitas no capitalismo. Negar a validade destas normas de aceitabilidade universal e argüir em favor do socialismo é, então, contraditório.

Em tempo: o título deste post é uma pequena provocação aos nossos festejados inteliquituáiz, que vivem se gabando de sua interdisciplinariedade (que o autor do livro também professa, aliás), multidisciplinariedade, meta-disciplinariedade e, claro, da sua a-disciplinariedade, mostrando que não é privilégio de Derridas o uso de expressões de ciências firmadas em textos doutra natureza. Obviamente, não se precisa dela para se validar as teses e ganha um salgadinho de cana quem conseguir fazer a devida relação entre o título hawkinsiano e o texto. Promoção válida apenas para eles, para gente séria é covardia.

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