A psicóloga Marcela Ortolan envia interessante nota sobre a anedota abaixo dos porcos selvagens:
Gostei muito do texto que vocês enviaram sobre os porcos selvagens. Gostei tanto que gostaria de fazer algumas considerações. O objetivo do texto é fazer uma analogia entre o método usado na captura dos porcos selvagens e como as "agencias de controle" nos "domesticam" de acordo com os seus interesses sem que a gente perceba.
A descrição do procedimento usado na captura dos porcos selvagens é chamado, na psicologia, de processo de modelagem por aproximações sucessivas pelo do uso de reforço positivo. Acho interessante que a descrição deste processo esteja sendo usado como elemento de tomada de consciência, possibilitando que os leitores de tal texto, a partir do momento que conhecem uma forma de "controle", possam escolher qual a melhor forma de agir de acordo com os seus princípios.
Interessante por que uma das criticas mais fortes ao Behaviorismo Radical é o fato de ele tornar claro estes "métodos de controle", afinal a existência destes vai de encontro ao que conhecemos como "livre-arbítrio". Alias, Goethe em 1774 – algumas décadas antes do surgimento do behaviorismo radical - já havia feito uma observação neste sentido no seu conhecido livro "Os sofrimentos do jovem Werther":
"Todos os pedagogos eruditos são unânimes em afirmar que as crianças não sabem por que desejam determinada coisa; mas também os adultos, como as crianças, não andam ao acaso pela terra, e, tanto quanto elas, ignoram de onde vêm ou para onde vão; como elas, agem sem propósito determinado e, igualmente, são governados por biscoitos, bolos e varas de marmelo: eis uma verdade em que ninguém quer acreditar, embora seja óbvia, no meu entender." p. 15, Goethe, Os Sofrimentos do Jovem Werther. (grifo nosso)
Sobre tais criticas a resposta de Skinner era que ignorar o controle não faz com que ele deixe de existir, mas conhecê-lo possibilitaria uma real liberdade: a liberdade de escolher a qual controle gostaríamos de responder e/ou de criarmos nossos próprios controles. Por isso, foi com alegria que li o texto sobre "Como capturar porcos selvagens".
Quanto ao texto gostaria apenas de fazer mais dois apontamentos. Primeiro: esses métodos não são exclusividade de nenhum tipo de governo: capitalistas, comunistas, socialistas, talebãns, PT, PV, PSDB... todos usam o mesmo método, alguns com de forma mais elaborada que outros. Por isso cuidado ao fazer avaliações fechadas quanto isso.
Segundo: esse procedimento é usado para coisas "boas" também. Na verdade, boa parte do que aprendemos é por este métodos. Poderia usar exemplos técnicos para ilustrar isso, mas vou usar a descrição de como formamos laços afetivos de amizade uns com os outros feita por Antonie de Saint-Exupéry no seu livro O Pequeno Príncipe:
"- Por favor... cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me! - Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.
- Que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o principezinho cativou a raposa." (grifo nosso).
A raposa foi se acostumando ao Princezinho assim como os porcos foram acostumando-se com a cerca. A cada dia ele chegava mais perto e ela foi se acostumando com a sua presença e com o tempo pode descobri-lo como agradável, como os porcos descobriram o alimento. Veja: fazer laços não é ruim. Pelo contrário, é algo que "dá sentido a vida" e por falar disso de forma tão simples esse livro fez e faz tanto sucesso.
Pelo mesmo processo de reforçamento positivo e aproximações sucessivas aprendemos quase tudo na vida. A outra opção é por uso de punição, ao qual ninguém gosta de ser submetido.
Obrigada pela atenção
Um abraço
Marcela Ortolan
Bem, o caso é que se trata justamente de se perceber que se trata de um controle. Em política, algo assim só é tolerado apenas e tão somente se os cidadãos consentem expressamente com a coisa. O uso desse mecanismo de modo oculto é sempre uma tirania disfarçada. Que o ambiente nos molde por acaso é uma coisa, que um governo use recurso públicos para condicionar as pessoas a este ou aquele modelo social é coisa bem diversa. Conforme dito, parece que Skinner seria dessa mesma opinião.
Quanto ao pequeno príncipe, parece claro que o mesmo tem um olhar bastante efeminado, pejorativamente falando, da realidade. Afinal, que vantagem Maria leva em se aproximar da raposa? E não foi a mesma raposa, malandramente, quem bem lembrou que "tu te tornas responsavél por tudo que cativas?" Essa ingenuidade principesca é contraproducente ao sobreviver e, para quem por esse caminho se vai, não há elevação espiritual possível sem a sobrevivência corpórea; nem tudo que é bom para o corpo é bom para o espírito, mas tudo o que é mau para o corpo o é também àquele.
Gostei muito do texto que vocês enviaram sobre os porcos selvagens. Gostei tanto que gostaria de fazer algumas considerações. O objetivo do texto é fazer uma analogia entre o método usado na captura dos porcos selvagens e como as "agencias de controle" nos "domesticam" de acordo com os seus interesses sem que a gente perceba.
A descrição do procedimento usado na captura dos porcos selvagens é chamado, na psicologia, de processo de modelagem por aproximações sucessivas pelo do uso de reforço positivo. Acho interessante que a descrição deste processo esteja sendo usado como elemento de tomada de consciência, possibilitando que os leitores de tal texto, a partir do momento que conhecem uma forma de "controle", possam escolher qual a melhor forma de agir de acordo com os seus princípios.
Interessante por que uma das criticas mais fortes ao Behaviorismo Radical é o fato de ele tornar claro estes "métodos de controle", afinal a existência destes vai de encontro ao que conhecemos como "livre-arbítrio". Alias, Goethe em 1774 – algumas décadas antes do surgimento do behaviorismo radical - já havia feito uma observação neste sentido no seu conhecido livro "Os sofrimentos do jovem Werther":
"Todos os pedagogos eruditos são unânimes em afirmar que as crianças não sabem por que desejam determinada coisa; mas também os adultos, como as crianças, não andam ao acaso pela terra, e, tanto quanto elas, ignoram de onde vêm ou para onde vão; como elas, agem sem propósito determinado e, igualmente, são governados por biscoitos, bolos e varas de marmelo: eis uma verdade em que ninguém quer acreditar, embora seja óbvia, no meu entender." p. 15, Goethe, Os Sofrimentos do Jovem Werther. (grifo nosso)
Sobre tais criticas a resposta de Skinner era que ignorar o controle não faz com que ele deixe de existir, mas conhecê-lo possibilitaria uma real liberdade: a liberdade de escolher a qual controle gostaríamos de responder e/ou de criarmos nossos próprios controles. Por isso, foi com alegria que li o texto sobre "Como capturar porcos selvagens".
Quanto ao texto gostaria apenas de fazer mais dois apontamentos. Primeiro: esses métodos não são exclusividade de nenhum tipo de governo: capitalistas, comunistas, socialistas, talebãns, PT, PV, PSDB... todos usam o mesmo método, alguns com de forma mais elaborada que outros. Por isso cuidado ao fazer avaliações fechadas quanto isso.
Segundo: esse procedimento é usado para coisas "boas" também. Na verdade, boa parte do que aprendemos é por este métodos. Poderia usar exemplos técnicos para ilustrar isso, mas vou usar a descrição de como formamos laços afetivos de amizade uns com os outros feita por Antonie de Saint-Exupéry no seu livro O Pequeno Príncipe:
"- Por favor... cativa-me! disse ela.
- Bem quisera, disse o principezinho, mas eu não tenho muito tempo. Tenho amigos a descobrir e muitas coisas a conhecer.
- A gente só conhece bem as coisas que cativou, disse a raposa. Os homens não têm mais tempo de conhecer alguma coisa. Compram tudo prontinho nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me! - Que é preciso fazer? perguntou o principezinho.
- É preciso ser paciente, respondeu a raposa. Tu te sentarás primeiro um pouco longe de mim, assim, na relva. Eu te olharei com o canto do olho e tu não dirás nada. A linguagem é uma fonte de mal-entendidos. Mas, cada dia, te sentarás mais perto...
No dia seguinte o principezinho voltou.
- Teria sido melhor voltares à mesma hora, disse a raposa. Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieta e agitada: descobrirei o preço da felicidade! Mas se tu vens a qualquer momento, nunca saberei a hora de preparar o coração... É preciso ritos.
- Que é um rito? perguntou o principezinho.
- É uma coisa muito esquecida também, disse a raposa. É o que faz com que um dia seja diferente dos outros dias; uma hora, das outras horas. Os meus caçadores, por exemplo, possuem um rito. Dançam na quinta-feira com as moças da aldeia. A quinta-feira então é o dia maravilhoso! Vou passear até a vinha. Se os caçadores dançassem qualquer dia, os dias seriam todos iguais, e eu não teria férias!
Assim o principezinho cativou a raposa." (grifo nosso).
A raposa foi se acostumando ao Princezinho assim como os porcos foram acostumando-se com a cerca. A cada dia ele chegava mais perto e ela foi se acostumando com a sua presença e com o tempo pode descobri-lo como agradável, como os porcos descobriram o alimento. Veja: fazer laços não é ruim. Pelo contrário, é algo que "dá sentido a vida" e por falar disso de forma tão simples esse livro fez e faz tanto sucesso.
Pelo mesmo processo de reforçamento positivo e aproximações sucessivas aprendemos quase tudo na vida. A outra opção é por uso de punição, ao qual ninguém gosta de ser submetido.
Obrigada pela atenção
Um abraço
Marcela Ortolan
Bem, o caso é que se trata justamente de se perceber que se trata de um controle. Em política, algo assim só é tolerado apenas e tão somente se os cidadãos consentem expressamente com a coisa. O uso desse mecanismo de modo oculto é sempre uma tirania disfarçada. Que o ambiente nos molde por acaso é uma coisa, que um governo use recurso públicos para condicionar as pessoas a este ou aquele modelo social é coisa bem diversa. Conforme dito, parece que Skinner seria dessa mesma opinião.
Quanto ao pequeno príncipe, parece claro que o mesmo tem um olhar bastante efeminado, pejorativamente falando, da realidade. Afinal, que vantagem Maria leva em se aproximar da raposa? E não foi a mesma raposa, malandramente, quem bem lembrou que "tu te tornas responsavél por tudo que cativas?" Essa ingenuidade principesca é contraproducente ao sobreviver e, para quem por esse caminho se vai, não há elevação espiritual possível sem a sobrevivência corpórea; nem tudo que é bom para o corpo é bom para o espírito, mas tudo o que é mau para o corpo o é também àquele.
14 comentários:
Não entendi porque a Marcela escreveu de forma tão psicanalítica sobre uma das diversas maneiras de se alienar as pessoas. Mas tudo bem, de certa forma ela está coberta de razão, mesmo eu não sabendo se válido ou não ter que ler primeiro o Pequeno Príncipe para entender melhor certas teses anti-capitalistas do Karl Marx.
hahahahaha
É, fui infeliz ao citar O Pequeno Principe, deveria ter escolhido outro exemplo para escapar do preconceito que existe acerca deste livro conhecido como "Livro de Miss".
Mas agora já era... hehehe Acho que a idéia principal foi bem compreendida.
Desculpe-me Lícinio, mas o texto não tem nada, nada, nadica de psicanalítico. Você pode não acreditar, mas está no extremo oposto.
Eu também não acredito que seja necessário ler o Pequeno Princepe para entender a forma de pensar Marxista ou de qualquer outro governo(eu mesma li apenas no ano passado quando os conceitos que apresentei aqui já estavam mais do que bem comprendidos por mim). Usei apenas para ilustrar como o mesmo processo pode ser usado na aprendizagem de coisas "positivas" .
Peço desculpas, pelo seu comentário percebo que o texto não está claro o suficiente para todos. Da próxima vez tento outra estratégia.
Jonh, valeu pela discussão. Eu não sabia que você estava usando Blogspot! Vou adiciona-lo ao reader.
Um abraço
Marcela, fazendo uso da franqueza, eu lhe garanto que muito dos meus comentários não são importantes - tem hora que escrevo conforme Lúcifer assopra nos meus ouvidos. Resumindo, não dê trelas as minhas brincadeiras (e o pobre do John é quem aguenta os trancos quando eu não explico direito as coisas). Mas eu gosto de conversar assim mesmo, como se eu pensasse de fato antes de dizer qualquer coisa - outro dia me disseram que doente é aquele que pensa ser são da cabeça. Mas Marcela, já que estou tento uma rara oportinade de conhecer você através de seus escritos, gostaria de lhe pedir (se o John permite mendicâncias aqui heheheh) para você indicar meus trabalhos pseudo-virtuais visando um diploma de PhD pós-Juízo Final que há no endereço http://admiraveldesedizer.blogspot.com/ e, conforme sua aceitação, irei tacar o endereço do seu blog por lá também. Meus sinceros agradecimentos a você e ao nosso magnânimo John pela sua santa paciência para com esse reles mortal que vos escreve pertubando todo mundo conforme Constelação de Áries. Fraternos abraços em ambos. liciniomedeiros@gmail.com
Criar laços é essencial à sobrevivência e, consequentemente, à evolução espiritual.
Eu odiei esse pejorativamente, é sério :)
Nanda, por acaso você andou lendo alguma coisa sobre espiritismo kardecista? :-) Pergunto porque essencialidade, sobrevivência e evolução espiritual são definições muito abrangentes e próximas da metafísica aristotélica de Bill Gates. :-)
Licínio, não te entendi... eu não estava sendo assim tão filosófica... :)
O John pergunta que vantagem Maria leva em se aproximar da raposa?, diz que o pequeno príncipe é ingênuo e efeminado (pejorativamente falando ), o que é, segundo ele, contraproducente ao sobreviver e, para quem por esse caminho se vai, não há elevação espiritual possível sem a sobrevivência corpórea, e eu estou discordando, dizendo que criar laços (a vantagem que leva Maria nessa história) é essencial à sobrevivência, e não contrapoducente, como ele afirmou.
Mas li Kardec e um pouco de Aristóteles, se é isso que quer saber. Quanto ao Bill Gates, juro que não entendi a piada.
Nanda, pelo que ficou claro, eu fiz uma tremenda confusão porque pensei que você estava expressando algum entendimento para provar possível evolução espiritual independentemente do que se lê e se entende do artigo. :-)
Meninas e menino, se continuarem assim, os demais vão começar a levar este blog a sério. Imagine o perigo...
John, mesmo agradecendo sua sábia advertência... gostaria de chamá-lo de mal-agradecido :-) porque no Mirabile Dictu ninguém aparece mais por lá para comentar e isso me deixou muito entristecido, mais ainda devido as pessoas que acessaram e não conseguiram escrever porque o maluco do Don Juan tinha esquecido as janelas fechadas - resumindo, estou definhando espiritualmente. E você, John, deveria :-) levantar as mãos aos céus e gritar: PAI, POR QUE ME ABANDONASTE! :-))) PERDOAI-VOS PORQUE ELES NÃO SABEM O QUE FAZEM! heheheheh
Don, fui até o seu blog, mas (novidade!) você fechou as janelas de novo, ninguém em casa!
É... mas pelo menos lá lemos algumas coisas e não se lê, por exemplo, "este blog está aberto exclusivamente a leitores convidados" :-)
Também fui, não encontrei um murinho sequer para pichar algo.
:-)))
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